24 de setembro de 2014

Crônica: Uma por Cinco


 Pedro Paulo Mello Souza Silva, morto com cinco tiros pela polícia, em operação contra pirataria na capital.
 O primeiro tiro levou tua inocência. O segundo, a dignidade. O terceiro, tua esperança. O quarto foi teu último suspiro. E o quinto, bem, o quinto era Pedro Paulo Mello Souza Silva, vendedor de CD's na Rua 25 de Março, em São Paulo. Único trabalho que a vida lhe ofereceu, sem muitos recursos, tentando roubar de volta uma vida digna, coisa que o governo lhe roubou ainda criança. Desafiando a lei, que não tem lei. A lei que não chega a quem rouba de verdade. Vendia quatro por dez, é dois por cinco.
 Naquela tarde, vendeu a vida, a única que tinha, uma mixaria, vendeu uma por cinco. Cinco tiros letais, para levar de uma vez a vida e a dignidade, ou ao menos, o pouco que restará. O quinto tiro, era mesmo Pedro Paulo Mello Souza Silva, o tiro que mostrou a todos nós, Pedros, Paulos, Mellos, Souzas e Silvas, que de nada vale o que fazemos, porque um não basta, tem de ser por cinco. Pra depois arrancarem, os cinco, de uma vez, como arrancaram de Pedro, de Paulo, de Mello, de Souza e de Silva.

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